Não se sustenta uma família com R$ 916,90. Mas a convenção coletiva do Sindicato de Limpeza de São Paulo – e que deve servir de base para seus pares em outras praças – foi um duro golpe no budget e no planejamento operacional de contratantes e contratadas do setor.
O aumento de 11,73% na base salarial de quem ganha até R$ 2.500,00 deve jogar ainda mais pressão inflacionário na estagnada economia do pais. Mas isto não é tudo. Como sempre, o diabo mora nos detalhes.
Além do aumento no salario nominal muito superior às variações dos índices oficiais de preços, a convenção ainda prevê reajuste de 9% nos benefícios básicos da categoria, e 40% no vale refeição, passando o valor facial a R$ 12,74, além da extensão do benefícios de auxilio creche, agora para crianças até 18 meses de idade.
O mês de janeiro deverá ser agitado mas também cheio de oportunidades. Esta deve ser a hora de finalmente saírem da gaveta os conceitos de Performance em detrimento ao clássico headcount. Servir o cafezinho, limpar banheiros cinco vezes ao dia e coletar lixo em baias individuais – coisa já inexistente em praticamente toda Europa e EUA – ficará bem mais caro em 2015. É a hora de mudar por aqui também.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Por incrível que parece, é uma evolução
Como otimista inveterado, vejo esta saraivada de baixarias, mentiras e notícias plantadas na disputa do segundo turno presidencial como uma coisa boa. Na verdade, como uma evolução do nosso processo eleitoral.
Explico. Descobriu-se finalmente que política é coisa de gente grande, tema que nos Estados Unidos já está mais do que consolidado há tempos. Que envolve teorias de marketing, estudos estratégicos e análises, ou seja, é um jogo. E que requer muito mais do que um Maluf fanfarrão ou um Covas boca dura para fazer a coisa acontecer.
Estamos numa entressafra de modelos. O limbo que vivemos hoje tem muito a ver com o estágio secundo da teoria dos jogos e o conceito de Leilão de Segundo Preço. Como funciona?
Leilões de Segundo Preço são aqueles em que ganha o leilão o que oferecer o preço mais alto, porém pagando o valor ofertado pelo SEGUNDO preço mais alto. Exemplo, José e Maria estão disputando um leilão de uma peça que custa R$ 10,00.
José dá o lance de R$ 12,00 e Maria R$ 11,00. José leva a peça e vai pagar apenas R$ 11,00.
Aha!!! Pode um esperto pensar... Então o negócio é José dar sempre um lance muito maior, para garantir que a coisa funcione, certo? Sim, mas por apenas duas rodadas. Vamos lá.
José muito experto, resolve no segundo leilão de outra peça que custa R$ 10,00, dar um lance de R$ 50,00. Maria segue sua estratégia de R$ 11,00 e obviamente José leva o item, pagando R$ 11,00.
Mas a teoria dos jogos diz que Maria não seguirá sendo tola, e usa a mesma técnica. É aí que a coisa descamba.
Num terceiro leilão, de uma peça que custa R$ 10,00, José oferta R$ 50,00, mas Maria oferta R$ 40,00. José leva a peça mas paga 4 vezes mais do que ela vale. Qual a conclusão? Que jogando sujo, todos perdem no médio prazo.
Com o tempo, o mercado se auto regula e aventureiros que tentam fazer o que José fez no inicio, são excluídos naturalmente pelos demais.
As eleições estão nesta fase. Hoje não dá para acreditar em mais nada. Facebook, twitter, xico, chico, cartaz de jogador, zap zap, pesquisas de intenção de voto. Tudo virou uma grande névoa.
Ontem um rapaz perguntou a cotação do dólar, e ao ouvir que estava em R$ 2,50 ofendeu o interlocutor, achando que era coisa plantada.
Não queria fazer parte neste momento das coordenações das campanhas dos dois candidatos. Duvido que eles tenham a menor idéia de que caminho tomar, onde estão ganhando, onde estão perdendo. Resultado do que plantaram.
Partidos podem ser inimigos, mas não são burros. Em dado momento vão sentar, conversar, e colocar regrinhas básicas de convívio para os próximos pleitos. Há muito dinheiro envolvido nisto para deixa-lo a mercê de especulações e boatos.
Como disse, é uma evolução. Vamos chegar lá.
Explico. Descobriu-se finalmente que política é coisa de gente grande, tema que nos Estados Unidos já está mais do que consolidado há tempos. Que envolve teorias de marketing, estudos estratégicos e análises, ou seja, é um jogo. E que requer muito mais do que um Maluf fanfarrão ou um Covas boca dura para fazer a coisa acontecer.
Estamos numa entressafra de modelos. O limbo que vivemos hoje tem muito a ver com o estágio secundo da teoria dos jogos e o conceito de Leilão de Segundo Preço. Como funciona?
Leilões de Segundo Preço são aqueles em que ganha o leilão o que oferecer o preço mais alto, porém pagando o valor ofertado pelo SEGUNDO preço mais alto. Exemplo, José e Maria estão disputando um leilão de uma peça que custa R$ 10,00.
José dá o lance de R$ 12,00 e Maria R$ 11,00. José leva a peça e vai pagar apenas R$ 11,00.
Aha!!! Pode um esperto pensar... Então o negócio é José dar sempre um lance muito maior, para garantir que a coisa funcione, certo? Sim, mas por apenas duas rodadas. Vamos lá.
José muito experto, resolve no segundo leilão de outra peça que custa R$ 10,00, dar um lance de R$ 50,00. Maria segue sua estratégia de R$ 11,00 e obviamente José leva o item, pagando R$ 11,00.
Mas a teoria dos jogos diz que Maria não seguirá sendo tola, e usa a mesma técnica. É aí que a coisa descamba.
Num terceiro leilão, de uma peça que custa R$ 10,00, José oferta R$ 50,00, mas Maria oferta R$ 40,00. José leva a peça mas paga 4 vezes mais do que ela vale. Qual a conclusão? Que jogando sujo, todos perdem no médio prazo.
Com o tempo, o mercado se auto regula e aventureiros que tentam fazer o que José fez no inicio, são excluídos naturalmente pelos demais.
As eleições estão nesta fase. Hoje não dá para acreditar em mais nada. Facebook, twitter, xico, chico, cartaz de jogador, zap zap, pesquisas de intenção de voto. Tudo virou uma grande névoa.
Ontem um rapaz perguntou a cotação do dólar, e ao ouvir que estava em R$ 2,50 ofendeu o interlocutor, achando que era coisa plantada.
Não queria fazer parte neste momento das coordenações das campanhas dos dois candidatos. Duvido que eles tenham a menor idéia de que caminho tomar, onde estão ganhando, onde estão perdendo. Resultado do que plantaram.
Partidos podem ser inimigos, mas não são burros. Em dado momento vão sentar, conversar, e colocar regrinhas básicas de convívio para os próximos pleitos. Há muito dinheiro envolvido nisto para deixa-lo a mercê de especulações e boatos.
Como disse, é uma evolução. Vamos chegar lá.
terça-feira, 7 de outubro de 2014
Pecadores Idiotas
Se você come carne de porco, você é impuro e então irá para
o inferno.
Se você ingere bebidas alcoólicas, está causando um mal a si
próprio e então irá para o inferno.
Se você realizar um aborto, estará cometendo assassinato e
então irá para o inferno.
Se você faz transfusão de sangue, não está guardando-se da
maneira devida e então irá para o inferno.
--- // --
Se você votou no candidato A, então você é um coxinha elitista
e idiota.
Se você votou no candidato D, então você é um vagabundo
acomodado e idiota.
Se você votou no candidato M, então você é um eco chato
utópico e idiota.
Agora se você não
votou em M... bom, então só pode ser porque você é um idiota.
--- // --
Entre tantos rótulos e tão poucas ideias, ao fim do dia acabamos
todos condenados e usando chapeuzinho de burro. E não é opinião. É apenas
estatística.
Por Alguém que me Represente
Leio e escuto todos os dias comentários sobre a chatice das
eleições atuais e da falta de clareza sobre a quem dirigir o voto, sobretudo
num pleito onde o conceito de Voto Útil nunca foi tão amplamente debatido.
Desde o “O sr. é ateu?” de 1985 que os candidatos se
preocupam mais em dizer o que a maioria quer ouvir do que necessariamente em
defender aquilo que pensam. E o resultado é que ninguém representa mais
ninguém.
Não acho que a extinção da humanidade será culpa do sexo
anal. Tampouco que maconha deva vir de brinde na pipoca ou que o MIS seja
fechado por ser muito barulhento, mas respeito o direito destas ideias serem
defendidas.
Respeito porque elas representam sim a opinião de outras
pessoas. Pessoas que trabalham, geram renda e pagam impostos tanto quanto eu ou
você. Gostemos disto ou não.
Agora, o que empobrece o discurso é termos, como nunca antes
na história deste país, três candidatos que tão pouco falam a todos nós. Isto
sim deveria ser combatido com veemência.
Pelo visto teremos mais quatro longuíssimos anos pela frente.
domingo, 22 de junho de 2014
Do LIvro ao Entulho
Foi um daqueles casos onde, pelo jeito que o rapaz atendeu ao
telefone, eu já sabia que ia dar boa coisa:
- Entulho Zona Sul, bom dia.
Fruto de uma pequena intervenção em casa, fiquei com alguns
sacos de entulho para dar fim, mas estava com um problema. O volume era pequeno
demais para justificar uma caçamba, e grande demais para jogar no lixo comum.
Pensei que eu não deveria ser a primeira pessoa do mundo a ter este tipo de
problema e recorri à internet.
A página era modesta. Alguns números de celular, a foto de
uma Kombi e a promessa de retirada de qualquer coisa que não prestasse mais, de
móveis a eletrodomésticos, incluindo o próprio entulho.
Pelo escopo de atividades, esperava que a minha ligação
fosse atendida por um “Oi”, ou então “Fala”. O “Entulho Zona Sul, bom dia” foi
apenas a primeira surpresa.
Expliquei meu caso, negociamos preço – um terço da caçamba
convencional - e a data da coleta. Na véspera do dia marcado, o Roberto – era o
nome do educado rapaz que me atendera – me ligou confirmando o agendamento e o
horário. Não, não estava comprando um
carro novo. Estava apenas recolhendo entulho. E ele me ligou para confirmar o
trabalho.
Quinze minutos antes do horário marcado para retirada e lá
estava o próprio Roberto em frente minha casa com a Kombi da foto. Antes do
horário marcado! Outra surpresa.
Carregou sozinho os sacos
de entulho desde o quintal até a garagem – escada acima – e depois até o
interior da Kombi. Não me permitiu ajuda-lo.
- Pode deixar sr. Thiago, eu mesmo carrego. Estou
acostumado.
Para minha sorte. Eles estavam pesados para um atleta de
escritório.
- Quer a nota com ou sem CPF sr. Thiago?
Era surreal. Nota fiscal?
Enquanto bebia a água que eu oferecera, comentei sobre a boa
sacada que era este tipo de serviço, já que normalmente tínhamos apenas como opções
alugar uma caçamba ou contar com um carroceiro que fatalmente jogaria o entulho
num terreno qualquer.
- Mas foi assim que
comecei. Eu morava na Nove de Julho com a São Gabriel e...
- Onde?
- É na Nove de Julho com a São Gabriel. Meus pais ainda
moram lá. Eu percebi que todo morador tinha o mesmo problema que o seu. Fazia
uma reforminha e não tinha como se livrar do entulho. Resolvi arriscar. Tenho
faculdade e tudo. Sou bibliotecário mas não tenha muita paciência para ficar atrás
de uma mesa. Larguei tudo, comprei um galpão em Embu e sigo a vida coletando
coisas que as pessoas não querem. Uma parte vendo, outro reciclo e acabo
ganhando nas duas pontas. Não sei quanto tempo vou aguentar mas enquanto der, estamos
aí.
- É impressionante. Mas por que você não coloca alguém para
te ajudar?
- Eu tenho uns ajudantes. Mas saindo daqui vou fazer um
orçamento para um colega de faculdade. Tenho 4 toneladas de material para
retirar e não tinha porque ficar carregando ajudante o dia inteiro. Resolvi vir
sozinho.
- Papel?
- (risos)... sim, papel. A faculdade não foi de todo
perdida, não é?
Despeço-me de Roberto desejando boa sorte e com a promessa –
sincera – de indica-lo amigos e conhecidos.
Via de regra, o mercado de prestação serviços é tão ruim que
fazendo apenas o básico, conseguimos encantar. E neste quesito, o Roberto foi
longe.
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Visões de Outro Mundo – Parte 2
"
Especial Brasil – São Paulo
Se você chegar pela manhã na metrópole de 12 milhões de habitantes, terá a impressão de que ela não tem fim. Com sua imensidão, São Paulo é única.
O monstruoso tráfego da cidade é lendário e a maneira ideal de dribla-lo é servir-se de um dos mais de 500 helicóptero-táxis da cidade. Mas se quiser uma foto panorâmica de Sampa, vá ao topo do Terraço Itália, na Praça da Sé. A entrada é gratuita, assim como na maioria dos SESC´s, centros culturais mantidos pelas entidades de comércio da cidade.
Lá você encontrará exibições de fotografia, arte, livrarias e performances teatrais para adultos e crianças. A unidade Pompéia, na rua Clelia 93, tem uma piscina com acesso livre, então traga sua roupa de banho.
Caminhar entre os arranha céus da avenida Paulista é passeio obrigatório, assim como dar uma relaxada no Parque Siqueira Campos e na belíssima Livraria Cultura (Av. Paulita, 2073).
Se você quiser dar um tempo da selva de pedra, pode refugiar-se no Parque do Ibirapuera, uma área de 2 quilômetros quadrados desenhada pelo arquiteto Roberto Burle Marx. É a resposta brasileira ao Central Park, completo com seu lago e com a presença de executivos em seu jogging diário, além de atividades de capoeira e tai chi.
Há uma enorme comunidade japonesa em São Paulo e uma espécie de reduto pode ser encontrado no bairro da Liberdade, onde mercados típicos combinam o espirito do Japão com o do Brasil.
Muitos paulistanos tem pelo menos um tio-avô que veio da Itália. O resultado: uma paixão inigualável por Pizza. Tenta uma na Pizzaria Quintal, na rua Gandavo na Vila Madalena. Aqui os garçons trazem pedaços já cortado da iguaria, servindo vários sabores para toda a mesa.
Para uma viagem ao Brazil, passe no Mercado Municipal, um mercado indoor com imponente arquitetura neo-gótica. Você encontrará frutas e sucos de qualquer planta tropical, assim como carne de capivara, jacaré e também chocolates com frutas secas, chamados garoto.
Para descansar, abrigue-se no que os paulistanos chamam de “fatia de melão”. É o hotel Unique (hotelunique.com.br), uma extravagância de design do arquiteto Ruy Ohtake: um grande hall em formato de catedral com paredes high tech. Mas não antes de um happy hour no Bar Brahma, entre as av. Ipiranga e São João. Caetano Veloso dedicou uma de suas mais belas canções, Sampa, a este cruzamento.
"
Revista de Bordo Alitalia nº 354, Maio-2014, do original em italiano e inglês.
Especial Brasil – São Paulo
Se você chegar pela manhã na metrópole de 12 milhões de habitantes, terá a impressão de que ela não tem fim. Com sua imensidão, São Paulo é única.
O monstruoso tráfego da cidade é lendário e a maneira ideal de dribla-lo é servir-se de um dos mais de 500 helicóptero-táxis da cidade. Mas se quiser uma foto panorâmica de Sampa, vá ao topo do Terraço Itália, na Praça da Sé. A entrada é gratuita, assim como na maioria dos SESC´s, centros culturais mantidos pelas entidades de comércio da cidade.
Lá você encontrará exibições de fotografia, arte, livrarias e performances teatrais para adultos e crianças. A unidade Pompéia, na rua Clelia 93, tem uma piscina com acesso livre, então traga sua roupa de banho.
Caminhar entre os arranha céus da avenida Paulista é passeio obrigatório, assim como dar uma relaxada no Parque Siqueira Campos e na belíssima Livraria Cultura (Av. Paulita, 2073).
Se você quiser dar um tempo da selva de pedra, pode refugiar-se no Parque do Ibirapuera, uma área de 2 quilômetros quadrados desenhada pelo arquiteto Roberto Burle Marx. É a resposta brasileira ao Central Park, completo com seu lago e com a presença de executivos em seu jogging diário, além de atividades de capoeira e tai chi.
Há uma enorme comunidade japonesa em São Paulo e uma espécie de reduto pode ser encontrado no bairro da Liberdade, onde mercados típicos combinam o espirito do Japão com o do Brasil.
Muitos paulistanos tem pelo menos um tio-avô que veio da Itália. O resultado: uma paixão inigualável por Pizza. Tenta uma na Pizzaria Quintal, na rua Gandavo na Vila Madalena. Aqui os garçons trazem pedaços já cortado da iguaria, servindo vários sabores para toda a mesa.
Para uma viagem ao Brazil, passe no Mercado Municipal, um mercado indoor com imponente arquitetura neo-gótica. Você encontrará frutas e sucos de qualquer planta tropical, assim como carne de capivara, jacaré e também chocolates com frutas secas, chamados garoto.
Para descansar, abrigue-se no que os paulistanos chamam de “fatia de melão”. É o hotel Unique (hotelunique.com.br), uma extravagância de design do arquiteto Ruy Ohtake: um grande hall em formato de catedral com paredes high tech. Mas não antes de um happy hour no Bar Brahma, entre as av. Ipiranga e São João. Caetano Veloso dedicou uma de suas mais belas canções, Sampa, a este cruzamento.
"
Revista de Bordo Alitalia nº 354, Maio-2014, do original em italiano e inglês.
domingo, 25 de maio de 2014
Bullying Verde a Amarelo
Eu gosto de esportes de uma forma geral. Paro para assistir
X-Games, sei as regras do Curling e consigo até ter times favoritos de Rugby.
As Olimpíadas são incríveis – incluindo as de Inverno, mesmo
com a interminável patinação artística – mas não há nada como a Copa do Mundo.
O formato é imbatível. Competição a cada quatro anos, número
restrito de seleções e após uma fase quase de aquecimento, uma série de
mata-matas (está certo tia Mariza?) até a grande final.
Mas a Copa no Brasil está com um clima de água no chopp. Dá certa
sensação de culpa ficar animado com o evento quando sabemos de todos os
descalabros que giraram no entorno, sem falar da incompetência do setor privado
que colaborou com louvor com a lambança geral (a goteira de um bilhão não pode
ser atribuída apenas ao governo).
Mas aí no final de semana vi um carro com bandeirinhas penduradas
nos vidros do banco de trás. Foi o primeiro que ví fazendo isto.
Minha primeira impressão foi de espanto. “Como este cara é
corajoso”. Já o imaginei sendo chamado no próximo semáforo de alienado, vendido
e outras coisas mais. Como pode alguém apoiar esta causa?
Foi então que me dei conta do quão meu pensamento foi
pequeno. Talvez a apatia que esetá tomando conta de todas seja em virtude de
estarmos misturando duas coisas que estão muito próximas, mas não são iguais: a
organização e a seleção em si.
Dia 12 de Junho eu estarei em frente à televisão torcendo.
Vou vestir o verde e amarelo, cantar o hino e apoiar a seleção da maneira que
posso. O que não quer dizer em absoluto que sou a favor dos meios que foram
tomados na organização do evento. Esta cobrança tem que continuar mesmo após a
grande final e quiçá ser representada no voto de outubro.
Não dá para colocar Hospital e Copa dentro da mesma
discussão. Mas dentro das quatro linhas, Avante Brasil!
terça-feira, 1 de abril de 2014
Visões de um Outro Mundo
Almoçava com um executivo em visita ao Brasil, atualmente exercendo uma função corporativa no escritório central da organização em Copenhagen.
Romeno de natureza, vivera uns bons anos entre Londres e Paris e já havia rodado quase todos os países do Leste Europeu. Inicio o diálogo quando uma pequena aranha aparece sobre sua camisa.
- Cuidado, tem uma aranha na sua camisa.
- Ela é venenosa? Se não, não me importo. Aliás, coisa curiosa aqui no Brasil.
- O quê?
- Eu imaginava que, estando num país tropical, haveria mais insetos. Mais mosquitos principalmente. Mas quase não os vejo por aqui.
- Desculpe mas, de onde você pensava que eles poderiam vir? Você viu alguma floresta no entorno ou algo do gênero?
- Não, mas talvez do lixo.
- Que lixo?
- É verdade, taí outra coisa que me surpreendeu. Não vejo muito lixo jogado nas ruas. Como vocês fazem isto?
- Como assim?
- É, não vejo as pessoas jogando lixo na rua. Surpreendente. Como vocês educaram as pessoas? Na escola?
- Olha, eu fui criado assim, nem sei onde aprendi. Meus filhos também foram criados assim, então para eles é natural. Jogar lixo na rua definitivamente não é o comportamento padrão da turma. Aliás, em muitos lugares se você o fizer, a população em torno vai brigar com você. Mais ou menos como qualquer grande metrópole do mundo. Mas não se engane, pois São Paulo é uma cidade enorme, com mais de 15 milhões de habitantes. Não posso dizer que este é padrão em todo lugar.
- Incrível como quem é do local não valoriza os bons aspectos de uma região. Eu estou muito impressionado com a sua cidade. Vocês deveriam ter mais orgulho dela. A Europa também tem a sua periferia. E acredite, ela não é nada bonita. A diferença é que não aparece no jornal.
Romeno de natureza, vivera uns bons anos entre Londres e Paris e já havia rodado quase todos os países do Leste Europeu. Inicio o diálogo quando uma pequena aranha aparece sobre sua camisa.
- Cuidado, tem uma aranha na sua camisa.
- Ela é venenosa? Se não, não me importo. Aliás, coisa curiosa aqui no Brasil.
- O quê?
- Eu imaginava que, estando num país tropical, haveria mais insetos. Mais mosquitos principalmente. Mas quase não os vejo por aqui.
- Desculpe mas, de onde você pensava que eles poderiam vir? Você viu alguma floresta no entorno ou algo do gênero?
- Não, mas talvez do lixo.
- Que lixo?
- É verdade, taí outra coisa que me surpreendeu. Não vejo muito lixo jogado nas ruas. Como vocês fazem isto?
- Como assim?
- É, não vejo as pessoas jogando lixo na rua. Surpreendente. Como vocês educaram as pessoas? Na escola?
- Olha, eu fui criado assim, nem sei onde aprendi. Meus filhos também foram criados assim, então para eles é natural. Jogar lixo na rua definitivamente não é o comportamento padrão da turma. Aliás, em muitos lugares se você o fizer, a população em torno vai brigar com você. Mais ou menos como qualquer grande metrópole do mundo. Mas não se engane, pois São Paulo é uma cidade enorme, com mais de 15 milhões de habitantes. Não posso dizer que este é padrão em todo lugar.
- Incrível como quem é do local não valoriza os bons aspectos de uma região. Eu estou muito impressionado com a sua cidade. Vocês deveriam ter mais orgulho dela. A Europa também tem a sua periferia. E acredite, ela não é nada bonita. A diferença é que não aparece no jornal.
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
Quando o Politicamente Correto faz Bem
Se o SBT tem o Chaves, a Warner tem Friends. Não importa o capítulo que passe, o dia, o horário. Se está na tela, tem publico cativo. E claro que no final de ano não poderia faltar uma hiper maratona de 36 horas ininterruptas de uma das séries mais vistas de todos os tempos, mesmo tendo acabado há quase 10 anos.
O bacana de se rever filmes ou coisas antigas várias vezes é passar a prestar atenção em detalhes secundários da trama como fotografia, cenário e tudo mais. Ontem vi novamente o episódio 17 da ultima temporada – o penúltimo de toda a série. O enredo é mais ou menos o seguinte:
Uma das mocinhas (são 3 amigos e 3 amigas) trabalha na Louis Vuitton e recebe um convite para almoçar com um diretor da Gucci, que lhe oferece um emprego.
Ao chegar ao restaurante, a mocinha e o diretor da Gucci sentam ao lado de uma mesa onde está almoçando o chefe da mocinha na Louis Vuitton. A entrevista segue e a mocinha, além de não ser aprovada na Gucci, perde o emprego atual.
O namorado da mocinha (que é paleontólogo) decide falar com o ex chefe dela (na Louis Vuitton) pedindo que reconsiderasse a demissão. Entre idas e vindas e as primeiras negativas, descobre que o filho do ex chefe é louco por dinossauros.
O namorado da mocinha (que é paleontólogo) então faz uma oferta: que deixaria o filho do ex chefe entrar no museu de história natural quando o mesmo estivesse fechado para conhecer os dinossauros, fósseis e demais coisas bem de perto. O ex chefe reconsidera e aceita o trato.
A mocinha, sem saber da história, chega de noite em casa e comenta com o namorado que recebera a noticia da recontratação, mas diz que negou pois no ínterim também recebera uma outra oferta, de uma outra empresa, melhor do ponto de vista profissional e financeiro.
O namorado da mocinha fica desolado pois esta nova oportunidade significaria a mudança da mocinha para outro país e com a eminente ruptura no relacionamento, volta até o ex chefe e oferece uma réplica de um ovo de dinossauro em troca de ele oferecer um aumento para ela. O trato novamente é aceito.
Paremos por aqui, pois o resto da história não interessa.
O mundo se tornou um pouco mais chato com a história do politicamente correto. Os Trapalhões nas suas eternas piadas sobre bebida e a cor do personagem Mussum jamais seriam veiculados hoje. Mas tem coisas que meros dez anos depois, chocam aos ouvidos.
Em que mundo moderno uma Louis Vuitton aceitaria vincular sua imagem a um programa de televisão, mostrando um diretor aceitando suborno para recontratar alguém???
Nunca. Nem no mais remoto sonho.
É verdade que se E.T. fosse filmado hoje, Elliot teria atraído o alienígena com brócolis desidratado e não com Hersheys. Mas para algumas coisas, a patrulha do politicamente correto fez um bem danado.
O bacana de se rever filmes ou coisas antigas várias vezes é passar a prestar atenção em detalhes secundários da trama como fotografia, cenário e tudo mais. Ontem vi novamente o episódio 17 da ultima temporada – o penúltimo de toda a série. O enredo é mais ou menos o seguinte:
Uma das mocinhas (são 3 amigos e 3 amigas) trabalha na Louis Vuitton e recebe um convite para almoçar com um diretor da Gucci, que lhe oferece um emprego.
Ao chegar ao restaurante, a mocinha e o diretor da Gucci sentam ao lado de uma mesa onde está almoçando o chefe da mocinha na Louis Vuitton. A entrevista segue e a mocinha, além de não ser aprovada na Gucci, perde o emprego atual.
O namorado da mocinha (que é paleontólogo) decide falar com o ex chefe dela (na Louis Vuitton) pedindo que reconsiderasse a demissão. Entre idas e vindas e as primeiras negativas, descobre que o filho do ex chefe é louco por dinossauros.
O namorado da mocinha (que é paleontólogo) então faz uma oferta: que deixaria o filho do ex chefe entrar no museu de história natural quando o mesmo estivesse fechado para conhecer os dinossauros, fósseis e demais coisas bem de perto. O ex chefe reconsidera e aceita o trato.
A mocinha, sem saber da história, chega de noite em casa e comenta com o namorado que recebera a noticia da recontratação, mas diz que negou pois no ínterim também recebera uma outra oferta, de uma outra empresa, melhor do ponto de vista profissional e financeiro.
O namorado da mocinha fica desolado pois esta nova oportunidade significaria a mudança da mocinha para outro país e com a eminente ruptura no relacionamento, volta até o ex chefe e oferece uma réplica de um ovo de dinossauro em troca de ele oferecer um aumento para ela. O trato novamente é aceito.
Paremos por aqui, pois o resto da história não interessa.
O mundo se tornou um pouco mais chato com a história do politicamente correto. Os Trapalhões nas suas eternas piadas sobre bebida e a cor do personagem Mussum jamais seriam veiculados hoje. Mas tem coisas que meros dez anos depois, chocam aos ouvidos.
Em que mundo moderno uma Louis Vuitton aceitaria vincular sua imagem a um programa de televisão, mostrando um diretor aceitando suborno para recontratar alguém???
Nunca. Nem no mais remoto sonho.
É verdade que se E.T. fosse filmado hoje, Elliot teria atraído o alienígena com brócolis desidratado e não com Hersheys. Mas para algumas coisas, a patrulha do politicamente correto fez um bem danado.
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
Vida Após a Vida
Take1
Empresário sofre ataque cardíaco
e morre no interior de casa de prostituição. A polícia encontra drogas e a
presença de menores no estabelecimento. O homem de 53 anos deixa mulher e dois
filhos menores. Ninguém foi preso.
Qual foi a primeira imagem que
veio à sua cabeça?
“Filho da p***. Tava na zona,
deve ter enchido o fiofó de droga e agora a mulher tem que ser virar com os
filhos. Mereceu.”
Take2
Empresário líder da campanha
contra a exploração sexual de menores participa de incursão policial contra um
prostíbulo e durante ação sofreu mal súbito, falecendo em seguida. O homem de
53 anos deixa mulher e duas filhas que adotara de mães solteiras vítimas da
prostituição.
E agora, qual foi a primeira
imagem?
“Pobre coitado, que triste
ironia. Não merecia.”
Aonde quero chegar?
No sábado passado o filho adolescente de um casal de amigos irrompeu
na cozinha da casa incrédulo com a morte de seu ídolo de infância Paul Walker,
que morrera quando seu carro chocou-se com uma árvore ao retornar de um evento
beneficente.
As primeiras análises deram conta de um vazamento de fluído
de direção, que teria causado não só a perda da direção como o incêndio
precipitado que causara a morte do ator e seu amigo.
“Triste ironia... morrer num acidente de carro, no carona,
voltando de um evento beneficente contra os pobre filipinos... “.
Mas aí veio o take2... o Porsche estaria participando de um
racha quando ocorreu o acidente.
Quatro horas antes da publicação deste texto, o G1 noticiou
um comunicado da polícia de Los Angeles negando o fato de o veículo estar
participando de um racha.
Não importa.
Aposto a ponta do dedo mindinho
que você aí, em algum momento entre a fatalidade o possível racha, pensou “filho
da p***”, achou que estava no filme... deveria fazer isto o tempo todo.”
Como aposto que você pensou que Cassia Eller havia morrido de
overdose. E também que ficou chocado ao saber que o menininho do Glee ou o
melhor Coringa de todos os tempos foram embora por esta causa.
Foi ou não foi?
O fato é que cada vez mais somos medidos e avaliados não só pelo
que somos em vida, mas também pela forma como morremos. Do jeito que o mundo é
doido, logo logo isto será pauta de serviço de consultores de imagem.
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Como Sonhamos
- Onde você aprendeu espanhol, na escola?
- Sim, mas numa escola especifica. Não temos isto no ensino regular.
- O que eles ensinam então?
- Não muita coisa na verdade... algo parecido com inglês, mas também insuficiente. Você é de Madrid, certo?
- Não, Barcelona.
- Mas você não tem sotaque gallego.
- É que minha mãe é de Madrid. Só meu pai era catalão.
- E na sua casa, como é?
- Com minha esposa falo em catalão. Com meu filho, castelhano.
- Mas e você, qual é a sua língua nativa?
- Não sei na verdade, depende...
- Como você sonha? Em catalão ou castelhano?
- Como assim?
- Os sonhos revelam quem nós somos.
- Hum... interessante.. mas acho que se sonho com minha esposa, sonho em catalão... se sonho com meu filho, espanhol.
- E quando sonha com um estranho?
-..... cara.... nunca pensei nisto.... agora fiquei com medo de sonhar... acho que não vou dormir mais....rs.
- Garçom, mais uma cerveja por favor.
- Sim, mas numa escola especifica. Não temos isto no ensino regular.
- O que eles ensinam então?
- Não muita coisa na verdade... algo parecido com inglês, mas também insuficiente. Você é de Madrid, certo?
- Não, Barcelona.
- Mas você não tem sotaque gallego.
- É que minha mãe é de Madrid. Só meu pai era catalão.
- E na sua casa, como é?
- Com minha esposa falo em catalão. Com meu filho, castelhano.
- Mas e você, qual é a sua língua nativa?
- Não sei na verdade, depende...
- Como você sonha? Em catalão ou castelhano?
- Como assim?
- Os sonhos revelam quem nós somos.
- Hum... interessante.. mas acho que se sonho com minha esposa, sonho em catalão... se sonho com meu filho, espanhol.
- E quando sonha com um estranho?
-..... cara.... nunca pensei nisto.... agora fiquei com medo de sonhar... acho que não vou dormir mais....rs.
- Garçom, mais uma cerveja por favor.
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
Saudades sem Saudosismo
Devido à má fase do meu time no campeonato nacional, me peguei na terça feira passada procurando onde assistir ao super confronto do próprio contra o último colocado da tabela, num misto de torcida e reza braba para que esta zica vá logo embora.
O confronto não passaria em nenhum canal da tv, aberta ou a cabo, e o pay per view deve ter ficado louco (pois estava cobrando R$ 85,00 para ver a partida) então apelei a uma das rádios on line para acompanhar este clássico.
Não me lembro a ultima vez que acompanhei uma transmissão via rádio por 90 minutos inteiros. Primeiro porque se o jogo é importante, está na TV. E se não é importante... ah, vejo o resultado depois.
Mas este, como disse, tinha o coeficiente torcida (que se repetirá em alguma horas) então valia o sacrifício.
Ouvir o jogo me lembrou da curiosa dinâmica que era assistir a jogos de futebol no passado. Não sei na casa de vocês, mas na minha funcionava assim:
Se o jogo iria passar APENAS no rádio, 30 minutos antes o aparelho era ligado para acompanharmos todos os detalhes pré jogo. Escalações, prognósticos, o grito da torcida, e etc. Se o time ganhava, o rádio permaneceria ligado por mais uma ou duas horas após o confronto. Se perdia, o dia se encerraria com cara de poucos amigos.
Mas havia jogos que não passavam apenas no rádio, e sim tinham os vídeo tapes após as partidas. Pode parecer maluquice, mas por mais de uma vez, sabendo que o jogo teria o VT, éramos proibidos de ligar o som durante a partida ao vivo ou de emitir qualquer sinal que fizesse alusão ao resultado do jogo. A minha casa entre 16h00 e 18h00 ficava num silencio sepulcral e após isto, a televisão imperava soberana com meu pai assistindo à partida, sofrendo, gritando, xingando e torcendo, como se fosso ao vivo.
MAS O JOGO JÁ TINHA ACABADO HÁ MAIS DE UMA HORA!
Eram bons tempos. Não pelas saudades. Não por achar que eram necessariamente melhores do que os de hoje. Mas talvez por serem tempos mais inocentes. E de todas as coisas que temos perdido em nome da tal modernidade, esta é uma das que tem me soado mais cara.
O confronto não passaria em nenhum canal da tv, aberta ou a cabo, e o pay per view deve ter ficado louco (pois estava cobrando R$ 85,00 para ver a partida) então apelei a uma das rádios on line para acompanhar este clássico.
Não me lembro a ultima vez que acompanhei uma transmissão via rádio por 90 minutos inteiros. Primeiro porque se o jogo é importante, está na TV. E se não é importante... ah, vejo o resultado depois.
Mas este, como disse, tinha o coeficiente torcida (que se repetirá em alguma horas) então valia o sacrifício.
Ouvir o jogo me lembrou da curiosa dinâmica que era assistir a jogos de futebol no passado. Não sei na casa de vocês, mas na minha funcionava assim:
Se o jogo iria passar APENAS no rádio, 30 minutos antes o aparelho era ligado para acompanharmos todos os detalhes pré jogo. Escalações, prognósticos, o grito da torcida, e etc. Se o time ganhava, o rádio permaneceria ligado por mais uma ou duas horas após o confronto. Se perdia, o dia se encerraria com cara de poucos amigos.
Mas havia jogos que não passavam apenas no rádio, e sim tinham os vídeo tapes após as partidas. Pode parecer maluquice, mas por mais de uma vez, sabendo que o jogo teria o VT, éramos proibidos de ligar o som durante a partida ao vivo ou de emitir qualquer sinal que fizesse alusão ao resultado do jogo. A minha casa entre 16h00 e 18h00 ficava num silencio sepulcral e após isto, a televisão imperava soberana com meu pai assistindo à partida, sofrendo, gritando, xingando e torcendo, como se fosso ao vivo.
MAS O JOGO JÁ TINHA ACABADO HÁ MAIS DE UMA HORA!
Eram bons tempos. Não pelas saudades. Não por achar que eram necessariamente melhores do que os de hoje. Mas talvez por serem tempos mais inocentes. E de todas as coisas que temos perdido em nome da tal modernidade, esta é uma das que tem me soado mais cara.
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Estupra mas não Mata
Só se fala nas tais armas químicas que vitimaram mais de 1mil pessoas nos últimos dias na Siria. O secretário geral da ONU prevê “graves consequências” ao regime de Bashar Al-Assad. Obama pede investigação do caso. O ministro britânico de relações exteriores ameaça ir ao Conselho de Segurança. Bla bla bla, bla bla bla, bla bla bla.... bla bla bla, bla bla bla, bla bla bla...
A falácia dos jogos de guerra me encanta. Existem diversos tratados espalhados pelo mundo com o intuito de “regular” a matança em tempos de conflito. Tipo um manual de como destruir o mundo (exemplo: comer coração do inimigo capturado pode. Xingar a mãe do prisioneiro não). E por aí vai.
Um deles é o de não utilização de armas químicas. Fato curioso a respeito. Alguns países – poucos é verdade – mas entre eles a Síria, não são signatários do tal tratado. Por que não? Porque se você não assinar e tiver as tais armas, tá tudo certo. Mas se você assinar e descobrirem que tem, aí seu país pode sofrer uma intervenção militar uma vez que você está descumprindo um tratado internacional.
Bem maluco né? Ou seja, matar pode. O problemão é desrespeitar o tratado.
O precedente de um ataque químico é extremamente perigoso, mas desde março de 2011 já foram mortas mais de 100mil pessoas nos conflitos segundo estimativas. Ainda que tivessem morrido de cócegas, estamos falando de quase 1% da população inteira de um país dizimada em pouco mais de dois anos.
O buraco aqui é bem mais embaixo.
A falácia dos jogos de guerra me encanta. Existem diversos tratados espalhados pelo mundo com o intuito de “regular” a matança em tempos de conflito. Tipo um manual de como destruir o mundo (exemplo: comer coração do inimigo capturado pode. Xingar a mãe do prisioneiro não). E por aí vai.
Um deles é o de não utilização de armas químicas. Fato curioso a respeito. Alguns países – poucos é verdade – mas entre eles a Síria, não são signatários do tal tratado. Por que não? Porque se você não assinar e tiver as tais armas, tá tudo certo. Mas se você assinar e descobrirem que tem, aí seu país pode sofrer uma intervenção militar uma vez que você está descumprindo um tratado internacional.
Bem maluco né? Ou seja, matar pode. O problemão é desrespeitar o tratado.
O precedente de um ataque químico é extremamente perigoso, mas desde março de 2011 já foram mortas mais de 100mil pessoas nos conflitos segundo estimativas. Ainda que tivessem morrido de cócegas, estamos falando de quase 1% da população inteira de um país dizimada em pouco mais de dois anos.
O buraco aqui é bem mais embaixo.
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Ditaduras Laborais
Na semana anterior escutei no
rádio uma interessante pergunta de um pai a um especialista em gestão de
carreiras. O pobre homem, dizendo-se alguém não tão bem sucedido na vida em
termos financeiros, questionava o colunista sobre sua credibilidade perante os
filhos no tocante à orientação profissional dos mesmos, sendo que ele próprio a
princípio houvera fracassado em seguir os próprios conselhos que agora dava aos
mais jovens.
Eis que alguns dias depois
participei das comemorações de dia dos Pais na escola dos meus pequenos. É o
sétimo ano que isto acontece e o script costuma ser mais ou menos o mesmo: Em
geral toca-se uma música - onde a maioria dos pimpolhos sequer se mexe - seguida
da entrega de uma lembrancinha.
É sobre a lembrancinha que me
peguei pensando no evento deste ano. Quando não é uma daquelas camisetas com a
mão (ou pé) do filho marcado em tinta para tecido, normalmente um cartão
pintado à mão e algum objeto para usar no trabalho.
Comecemos pelo cartão. Se no dia
das mães, todos eles são em formato de coração, no dos pais todos eles são em
formato de gravata. Sim, gravata. Quando varia um pouco é em formato de pasta
executiva.
Nunca recebi um cartão em formato
de picareta, de caminhão de lixo, de estetoscópio, nada. Sempre gravata.
Os presentes vão na mesma linha.
Porta cartão, porta caneta, bloquinho de anotar papel, porta celular. Um mini
kit de ferramentas com alicate e chave de fenda? Nunca. Um limpa graxa para os
dedos? Nem em sonho. Um protetor auricular escrito “Eu te amo papai”? Jamais.
Meu pai nunca gostou destas
comemorações escolares. Agora entendo. Profissional de trabalhos manuais,
aquelas “homenagens” parece que nunca eram para ele. Depois de vários anos e três
filhos, ele nem se esforçava mais para parecer gostar do porta-canetas.
As mulheres sofrem com a ditadura da maternidade e a eterna e
desequilibrada balança entre filhos e trabalho. Mas para os homens tampouco é
mais fácil. No inconsciente coletivo, ainda é a gravata e a mesa que significam
sucesso. Algo que está há anos luz de ser verdade.
terça-feira, 6 de agosto de 2013
Bons Tempos
- De jeito nenhum, eu já falei... se o 95 valia 7mil, como
um 98 pode valer só 8?
- Duas cebolas, isto, duas cebolas. Tem que ser médias, se
não, não dá.
- Domingo? De jeito nenhum! Eu já falei que domingo é na
casa da minha mãe. Não, não adianta discutir.
- Pega o faturamento e provisiona mais 15 mil. Isso, provisiona
também o custo, na linha de subcontratados se não dá diferença.
- Mas está no IPVA, é só pegar o valor do imposto. Não abro
mão dos 8 mil, ainda mais parcelado.
- Não esquece do leite para as crianças e também do pão. Eles
têm lanche para a escola amanhã.
- Não insiste pombas.. que coisa!.... não, não estou nervosa,
é você que é insistente.
- A contabilidade a gente acerta depois, quer dizer, reverte
para não ter impacto nos impostos, mas isto só no fechamento do trimestre,
agora pode ficar tranquilo que não impacta.
- Cinco mil a vista mais duas parcelas de mil... uhn... não
sei... é tentador. Mas ele me paga os 5 mil quando, na assinatura do documento?
- Ah, e carne também, dois quilos de carne moída. Mas pede
uma carne boa, da outra vez veio mais sebo que qualquer coisa.
- Eu não estou gritando!!! E não me pede pra ficar calma,
que é pior. JÁ FALEI QUE NÃO VOU NA SUA MÃE E ACABOU!!!
- Legal, com isto ficamos dentro da meta no acumulado do
ano, aí é só gerenciar aquele pedido grande que deve entrar mês que vem.
- Tá bom, negócio fechado, nos vemos na quinta feira. Um
beijo.
- Sim, já vou descer do metro e te encontro em casa, até
mais.
- Tá tá tá, em casa a gente discute, estou chegando já.
- Show de bola... até mais então, estou descendo na estação.
Um abraço.
Que saudades do tempo em que celular não funcionava no
metrô.
quarta-feira, 24 de julho de 2013
Três Desejos
Se um gênio da lâmpada – ou um
milionário excêntrico – aparecesse para mim me concedendo três desejos, três
extravagancias, eu não precisaria nem de cinco minutos para decidir:
Eu ainda não desisti dos dois
primeiros, mas é mais fácil a corrupção no Brasil acabar do que eu vir a jogar
por um time profissional, que dirá marcando golaços e tudo mais.
- Quero fazer uma viagem a Lua.
- Quero fazer um show de rock tocando
para um estádio cheio de gente.
- Quero marcar um golaço na final
do campeonato, dando o título para meu time do coração.
Mas se você tem um sonho
semelhante e não tem esperanças de que um gênio – ou milionário – apareça na
sua vida, não deixe de visitar o Museu do Futebol, no Pacaembú.
Para quem gosta do esporte
bretão, é emocionante. A amostra começa com a magia do rádio, onde se podem
escutar narrações históricas dos grandes monstros da comunicação como Fiori
Gigliotti, narrando o gol do Brasil contra a Inglaterra na Copa de 70, e Osmar
Santos ainda antes do acidente.
A parte das Copas bem como os
destaques de melhores defesas, melhores dribles e gols é muito bem montada, mas
o coração bate forte mesmo na parte chamada Exaltação.
No acesso do primeiro para o
segundo pavimento, um ambiente simula o som das arquibancadas de 27 torcidas de
times brasileiros. Não precisa esperar até o canto da sua agremiação preferida
para sentir a energia do local. Permaneça no ambiente e feche seus olhos. Imagine
você fazendo a jogada dos seus sonhos.
A minha começa na intermediaria
do campo de ataque, pelo lado esquerdo. Dou um drible seco no marcador e avanço
quatro ou cinco passos, já me preparando para o chute. De perna esquerda, com a
parte de fora do pé, bato com força no canto oposto do goleiro. A bola parece
que vai sair pela linha de fundo à direita, mas então ela pega o efeito e entra
no ângulo. Indefensável. São 42” do segundo tempo . É o gol do título.
A torcida vibra. Eu estou de
olhos fechados. E as lágrimas rolam.
Só preciso de mais dois desejos.
quarta-feira, 17 de julho de 2013
Mendicância Moderna
Num semáforo de uma cidade qualquer:
- Que fugir que nada dotô, foi passar para a 126 mesmo... pedí vida emprestada, movimentos extras, mas num rolou... por isto estou aqui...
- Moço, um minuto da sua atenção.
- Não tenho dinheiro.
- Não, não é isto...tô aqui pedindo uma ajudinha pro senhor
me ajudá, pois sabe como é, eu podia tá roubando, eu podia tá matando, mas tô
aqui porque a condição não me deu alternativa, tá me entendo?
- O que aconteceu?
- É meu vicio dotô... eu sempre falei: estre treco nunca vou
usar... aí você vê um amigo mexendo, um colega do escritório, até político...
tava sem fazer nada e um amigo que me fez um convite...aceitei, pensando “uma
vez só não pega nada”... mas o negócio te envolve de um jeito dotô... quando
você vê, tá mexendo com isto em casa, no final de semana, até em horário de
trabalho...me pegaram usando até numa reunião de trampo. Perdi o emprego,
entrei em depressão e aí comecei a usar cada vez mais....
- E sua família, não te ajudou?
- No começo até me parabenizaram por aderir, dizendo que eu
tinha “ficado moderno”...coisa maluca mesmo....trocávamos algumas experiências
e tudo mais mas quando a coisa apertou eles começaram a me bloquear...não
conseguia mais nada com ninguém. Fiquei preso um tempão.
- Preso???
- É preso... na 125. Coisa feia. Fiquei três semanas
tentando sair de lá...
- Você tentou fugir?- Que fugir que nada dotô, foi passar para a 126 mesmo... pedí vida emprestada, movimentos extras, mas num rolou... por isto estou aqui...
- Do que você está falando?
- Candy Crush dotô... pode me adicionar como amigo no Face e
me dar umas vidas extras?terça-feira, 25 de junho de 2013
Um Dedinho de Prosa
É procedimento padrão entre amigos a tiração de sarro quando alguém da turma corta o cabelo. Assim como as mulheres ficam bravas quando não se nota aqueles 0,3mm de corte na ponta, uma ida ao barbeiro em que ninguém olha e fala “que bosta é esta que fizeram na sua cabeça?” é quase desapontador, para não dizer frustrante.
Eis que no batido comentário junto a um grande amigo ele revela:
- Sabe que eu também acho? Eu nunca fico satisfeito com o jeito que o cara corta meu cabelo.
- Mas então por que você não muda? – perguntamos em uníssimo...
- Sei lá, é porque faz 20 anos que corto com o mesmo cara... não sei, ele já está meio velhinho, quem me levou lá foi meu pai, temos uma relação... acho que ele vai ficar chateado se eu reclamar, por isto eu sempre digo que ficou bom.
As leitoras devem estar achando um absurdo uma declaração como esta, mas no universo masculino é perfeitamente normal quando o assunto é barbeiro (cabeleireiro para homem é coisa que inventaram há pouco tempo, ok?). Quase tive um treco quando o “cara que cagava na minha cabeça” ficou doente e tive que procurar outro.
Mas minha relação mais masoquista é com meu dentista.
Eu o conheço há uns 20 anos também, também apresentado pelos meus pais. Na época, eu e meus dois irmãos destruíamos o seu consultório enquanto ele fazia os intermináveis canais, implantes e toda a sorte de procedimentos neles. Acho que quando minha mãe me levou lá pela primeira vez para uma consulta só minha, ele iniciou sua vingança contra os anos de bagunça.
A começar pela frieza no trato. Mesmo após tanto tempo, o diálogo com que ele me recebe é sempre igual:
- Bom dia doutor.
- Bom dia Thiago. Alguma coisa especifica, alguma dor?
- Não, apenas rotina.
- Seu pai e sua mãe estão bem?
- Sim.
- Seu pai continua trabalhando no mesmo lugar?
- Sim, continua.
- Tenho que visita-lo. Pode se sentar na cadeira que já vamos começar.
E para por aí. Sempre. Assim como é sempre igual o fato de eu sair das consultas sentindo bastante dor nos dentes, boca e até gengivas. Até a “limpeza” é complicada. Nunca testei outro profissional da área para efeito de comparação, mas em conversas com minha esposa – expert no assunto – ela sempre acha estranho eu me queixar muito mais do que o normal em procedimentos relativamente simples.
Já tentei reclamar mas é inútil. Ele me olha como se fosse minha a culpa pela coisa estar doendo.
Por alguma razão estranha entretanto, não consigo me desprender. De alguma forma acho que ele é “firmeza”. Afinal, após a primeira consulta lá atrás, com exceção das extrações de siso e as duas obturações (há 15 anos!), nunca mais tive que fazer nenhuma intervenção. Penso que seus procedimentos – e a dor – têm um pouco a ver com a qualidade do serviço. E que no final, por ser uma vez por ano, acaba não sendo assim tão terrível.
Curiosamente a consulta de hoje foi diferente. Marquei de refazer uma das obturações (a que têm uns 15 anos) e no momento em que cheguei ao consultório ele me recomendou adiar o procedimento. Como ele estaria viajando na semana seguinte, me recomendou remarcar a consulta para quando estivesse de volta a São Paulo, apenas por segurança, em caso de eu sentir algum desconforto no meio tempo.
Eu disse que tudo bem – e eu era louco de reclamar? – e perguntei por educação, já saindo do consultório, se a viagem era a trabalho ou férias. Foi aí que ele sacou:
- Vamos tomar um café.
E me pagou um café. Começou então a falar de sua viagem ao Nordeste, do projeto que está tocando com um consultório por lá, de questões familiares, do primo que ele não gosta, da cunhada que é mais chegada, filhos, sonhos, e etc e etc.
Fiquei meio embasbacado, surpreso de verdade. Tivemos mais contato numa manhã do que em 20 anos!
Não sei se a vingança por nós acabou (vou descobrir quando terminar a intervenção após sua viagem) mas de uma coisa tive absoluta certeza, a mesma que me acompanha há duas décadas: não é que o cara é firmeza mesmo?
Eis que no batido comentário junto a um grande amigo ele revela:
- Sabe que eu também acho? Eu nunca fico satisfeito com o jeito que o cara corta meu cabelo.
- Mas então por que você não muda? – perguntamos em uníssimo...
- Sei lá, é porque faz 20 anos que corto com o mesmo cara... não sei, ele já está meio velhinho, quem me levou lá foi meu pai, temos uma relação... acho que ele vai ficar chateado se eu reclamar, por isto eu sempre digo que ficou bom.
As leitoras devem estar achando um absurdo uma declaração como esta, mas no universo masculino é perfeitamente normal quando o assunto é barbeiro (cabeleireiro para homem é coisa que inventaram há pouco tempo, ok?). Quase tive um treco quando o “cara que cagava na minha cabeça” ficou doente e tive que procurar outro.
Mas minha relação mais masoquista é com meu dentista.
Eu o conheço há uns 20 anos também, também apresentado pelos meus pais. Na época, eu e meus dois irmãos destruíamos o seu consultório enquanto ele fazia os intermináveis canais, implantes e toda a sorte de procedimentos neles. Acho que quando minha mãe me levou lá pela primeira vez para uma consulta só minha, ele iniciou sua vingança contra os anos de bagunça.
A começar pela frieza no trato. Mesmo após tanto tempo, o diálogo com que ele me recebe é sempre igual:
- Bom dia doutor.
- Bom dia Thiago. Alguma coisa especifica, alguma dor?
- Não, apenas rotina.
- Seu pai e sua mãe estão bem?
- Sim.
- Seu pai continua trabalhando no mesmo lugar?
- Sim, continua.
- Tenho que visita-lo. Pode se sentar na cadeira que já vamos começar.
E para por aí. Sempre. Assim como é sempre igual o fato de eu sair das consultas sentindo bastante dor nos dentes, boca e até gengivas. Até a “limpeza” é complicada. Nunca testei outro profissional da área para efeito de comparação, mas em conversas com minha esposa – expert no assunto – ela sempre acha estranho eu me queixar muito mais do que o normal em procedimentos relativamente simples.
Já tentei reclamar mas é inútil. Ele me olha como se fosse minha a culpa pela coisa estar doendo.
Por alguma razão estranha entretanto, não consigo me desprender. De alguma forma acho que ele é “firmeza”. Afinal, após a primeira consulta lá atrás, com exceção das extrações de siso e as duas obturações (há 15 anos!), nunca mais tive que fazer nenhuma intervenção. Penso que seus procedimentos – e a dor – têm um pouco a ver com a qualidade do serviço. E que no final, por ser uma vez por ano, acaba não sendo assim tão terrível.
Curiosamente a consulta de hoje foi diferente. Marquei de refazer uma das obturações (a que têm uns 15 anos) e no momento em que cheguei ao consultório ele me recomendou adiar o procedimento. Como ele estaria viajando na semana seguinte, me recomendou remarcar a consulta para quando estivesse de volta a São Paulo, apenas por segurança, em caso de eu sentir algum desconforto no meio tempo.
Eu disse que tudo bem – e eu era louco de reclamar? – e perguntei por educação, já saindo do consultório, se a viagem era a trabalho ou férias. Foi aí que ele sacou:
- Vamos tomar um café.
E me pagou um café. Começou então a falar de sua viagem ao Nordeste, do projeto que está tocando com um consultório por lá, de questões familiares, do primo que ele não gosta, da cunhada que é mais chegada, filhos, sonhos, e etc e etc.
Fiquei meio embasbacado, surpreso de verdade. Tivemos mais contato numa manhã do que em 20 anos!
Não sei se a vingança por nós acabou (vou descobrir quando terminar a intervenção após sua viagem) mas de uma coisa tive absoluta certeza, a mesma que me acompanha há duas décadas: não é que o cara é firmeza mesmo?
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Procura-se um Oportunista
Os movimentos de protesto que tomam conta do país conseguiram atingir dois aspectos que são normalmente os mais complicados neste tipo de manifestação: um, conseguirem apoio da opinião pública; dois, conseguiram volume nas ruas.
Resta agora o próximo passo e ainda não está claro quem o dará.
O movimento apartidário é muito poético mas seu efeito prático é praticamente nulo. A massa não propõem leis, a massa não vota nas assembleias nem pede cassação formal no senado. Num momento em que estranhamente se ausentam das primeiras fileiras dos protestos personagens que sempre ostentaram uma imagem de “pensar e ser diferente de tudo isto que está aí” como Soninha, Eduardo Suplicy ou Luiza Erundina, resta desesperadamente que surja do povão um oportunista, alguém que vai jogar o jogo político e transformar o calor da massa em ações concretas, assim como foi, por exemplo, Lindberg Farias no movimento caras pintadas (o presidente da UNE seria um dos deputados mais votados na eleição seguinte). E isto tem que ocorrer logo.
Digo logo, pois os movimentos de protesto são cansativos. Não se conseguirá mobilizar 70mil pessoas todos os dias por muito tempo.
Em 2000, a faculdade de tecnologia de São Paulo parou por quase 60 dias lutando contra a aprovação do projeto 96/98 de desvinculação da instituição da fundação Paula Souza.
Como estudantes, tomávamos as ruas todas as noites e durante o dia, o alvo era a assembleia, onde o projeto estava em vias de ser colocado em votação.
No início a adesão era maciça mas com o passar do tempo a coisa foi rareando e em alguns momentos temeu-se pelo fracasso das ações.
Surgiram vários dos tais oportunistas que mencionei e que na verdade ajudaram no engavetamento do projeto, entre eles, pasmem, José Genuíno, que apesar de ser deputado federal à época, fez um discurso inflamado na porta da faculdade e ajudou na câmara estadual com o engajamento de alguns colegas de partido.
Precisamos urgentemente de representantes desta bandeira nas casas. Sob o risco entretanto de não ser aceito pelo povo, ficar a questão: quem dará o primeiro passo?
Resta agora o próximo passo e ainda não está claro quem o dará.
O movimento apartidário é muito poético mas seu efeito prático é praticamente nulo. A massa não propõem leis, a massa não vota nas assembleias nem pede cassação formal no senado. Num momento em que estranhamente se ausentam das primeiras fileiras dos protestos personagens que sempre ostentaram uma imagem de “pensar e ser diferente de tudo isto que está aí” como Soninha, Eduardo Suplicy ou Luiza Erundina, resta desesperadamente que surja do povão um oportunista, alguém que vai jogar o jogo político e transformar o calor da massa em ações concretas, assim como foi, por exemplo, Lindberg Farias no movimento caras pintadas (o presidente da UNE seria um dos deputados mais votados na eleição seguinte). E isto tem que ocorrer logo.
Digo logo, pois os movimentos de protesto são cansativos. Não se conseguirá mobilizar 70mil pessoas todos os dias por muito tempo.
Em 2000, a faculdade de tecnologia de São Paulo parou por quase 60 dias lutando contra a aprovação do projeto 96/98 de desvinculação da instituição da fundação Paula Souza.
Como estudantes, tomávamos as ruas todas as noites e durante o dia, o alvo era a assembleia, onde o projeto estava em vias de ser colocado em votação.
No início a adesão era maciça mas com o passar do tempo a coisa foi rareando e em alguns momentos temeu-se pelo fracasso das ações.
Surgiram vários dos tais oportunistas que mencionei e que na verdade ajudaram no engavetamento do projeto, entre eles, pasmem, José Genuíno, que apesar de ser deputado federal à época, fez um discurso inflamado na porta da faculdade e ajudou na câmara estadual com o engajamento de alguns colegas de partido.
Precisamos urgentemente de representantes desta bandeira nas casas. Sob o risco entretanto de não ser aceito pelo povo, ficar a questão: quem dará o primeiro passo?
quinta-feira, 6 de junho de 2013
Quando é Difícil Criticar o Bonzinho
É fácil apedrejar o cara mau.
Ninguém tem muita pena daquele que fala o que pensa, do que não está nem aí
para os outros, daquele que não cumpre regras ou que está sempre se colocando a
frente dos demais, muitas vezes de maneira não muito cortês.
A estas pessoas, não nos causa
surpresa quando algo errado é descoberto. Quando o jogador marrento é pego no
doping, quando aquele executivo arrogante é demitido por desvio de verbas ou
quando o político corrupto faz um haraquiri, sentimos uma espécie de justiça
divina sendo aplicada.
O que bagunça com nossos
sentimentos é quando descobrimos o lado negro da força no cara que era
bonzinho. Ficamos com um tipo... será?
Em 1993, o goleiro Zetti foi
flagrado num exame antidoping para cocaína durante as eliminatórias para a copa
do mundo.
- Puxa, mas o Zetti? O Zetti é um
cara tão legal, tão família... espero que dê tudo certo.
E deu. A defesa alegou que a
substância era derivada da ingestão de chá de coca e o goleiro foi liberado.
Se o mesmo goleiro Fabio Costa
tivesse sido flagrado, seria que o sentimento seria igual?
O Paulo Maluf ser condenado nas
ilhas Jersey é motivo de festa... aí descobrimos que o Demóstenes Torres também
fazia falcatruas... puxa vida, o Demóstenes?...caramba...
Todo mundo anda meio consternado
com a revelação de que a negociação de Neymar com o Barcelona estava pré
acertada há mais de um ano, ainda antes do encontro entre as duas equipes em
Tóquio. O jogador negou qualquer tipo de contrato em inúmeras oportunidades ao
longo destes 18 meses, mas todas se tornaram sem valor frente à declaração do
cartola catalão.
- Mas será? O Neymar, menino bom,
namorado da Marquezini? Será? Acho que não...
Pois é, o Neymar.
Receberia o mesmo tratamento da imprensa e
torcida se o caso tivesse ocorrido, nos mesmos moldes, com o Ganso?
quinta-feira, 9 de maio de 2013
Paguei R$ 8,00 Por um Suco
Eu entrei dias atrás em uma destas padarias que minha esposa classificaria como “charmosinha”. Lugar moderno e espaçoso, com telões mostrando um show MPB qualquer e fartos gabinetes com os mais variados exemplos de frios, doces, cafés e até sorvetes artesanais.
Fui até lá para almoçar. Ao entrar na padaria charmosinha, um atendente me recebeu com um sorriso desejando uma boa refeição.
O buffet por quilo não decepcionou. Na parte de saladas, servi-me de uma fatia de presunto parma com melão e um pedaço de morango por cima. Peguei ainda duas fatias de salmão cru. Nos pratos quentes, risoto ao funghi e um pedaço de salmão grelhado.
A mocinha da balança não foi menos cordial e tão logo me sentei a uma mesa, um garçom me ofereceu um suco, trazido pelo mesmo pouco tempo depois.
Fui pagar a conta e uma legião de caixas dava conta do fluxo intenso de clientes, com a mesma presteza e agilidade de seus pares que me receberam. Paguei com meu cartão de débito – com CPF na nota – e ao receber minha via do débito em conta, também recebi copia da nota fiscal fatura.
A conta da minha refeição foi de R$ 8,50 (sim, comi pouco, visto que o quilo estava R$ 40,00, mas isto é tema para outro texto). Foi então que comecei a imaginar a relação entre minha conta e toda aquela estrutura.
Partí do principio de que o estabelecimento não receberia tudo que paguei, pois dos R$ 8,50 há que se descontar os impostos, que mordem tranquilamente de 7% a 10% do montante. Eu usei meu cartão de débito, o que morde adicionais 2% a 3%.
Também fiquei imaginando aquela trupe de garçons e caixas em sua rotina diária. Provavelmente o contingente trabalhe pesado entre 11h30 e 14h30, mas ninguém pode ser contratado por três horas de trabalho. Logo, o dono da padaria charmosinha precisa contratá-los normalmente por 20 ou 44 horas semanais e arcar com o tempo ocioso, fora as faltas com atestado. Quase tive uma indigestão quando pensei nos adicionais de insalubridade, férias, 13º, descanso semanal remunerado, auxilio disto, auxilio daquilo....
Quando o bolo alimentar juntou-se com toda a escrituração contábil pela qual aquela notinha fiscal que pedi com CPF iria passar, incluindo os registros nos livros – em muitos casos literalmente – fiscais pertinentes, quase morri... e olha que nem entrei no custo da compra da matéria prima (SALMÃO, MELÃO E MORANGO!!!), do pessoal que prepara, do gás, da energia, etc, etc, etc.
Se por um milagre da natureza ainda sobrar algum trocado dos meus R$ 8,50 originais, o coitado do dono ainda teria que pagar imposto de renda. Juro que seu eu tivesse comido apenas a refeição, teria voltado e dado um troco a mais para o fulano.
Mas para sorte e felicidade geral do sistema, eu comprei um suco. Um copo de água de 300ml com uma polpa que custa centavos, e que me foi cobrado R$ 8,00. Caro? Muito. Injusto? Longe disto.
É o suco que faz a máquina girar. Assim como o café a R$ 4,50 ou a coca cola de R$ 22,00. E mesmo com tudo isto, ainda há muito mais empresários indo à falência do que entrando na lista da Forbes. O fato é que o Brasil se tornou um país caro.
Abusos precisam ser coibidos. Cansei de ver casa colocar o preço do couvert artístico no valor total da conta, e só depois cobrar os 10% de serviço. Boicotes nestes casos podem e devem ser incentivados. Mas há que se entender também que nem tudo é lucro fácil na vida do empresário tupiniquim.
Fui até lá para almoçar. Ao entrar na padaria charmosinha, um atendente me recebeu com um sorriso desejando uma boa refeição.
O buffet por quilo não decepcionou. Na parte de saladas, servi-me de uma fatia de presunto parma com melão e um pedaço de morango por cima. Peguei ainda duas fatias de salmão cru. Nos pratos quentes, risoto ao funghi e um pedaço de salmão grelhado.
A mocinha da balança não foi menos cordial e tão logo me sentei a uma mesa, um garçom me ofereceu um suco, trazido pelo mesmo pouco tempo depois.
Fui pagar a conta e uma legião de caixas dava conta do fluxo intenso de clientes, com a mesma presteza e agilidade de seus pares que me receberam. Paguei com meu cartão de débito – com CPF na nota – e ao receber minha via do débito em conta, também recebi copia da nota fiscal fatura.
A conta da minha refeição foi de R$ 8,50 (sim, comi pouco, visto que o quilo estava R$ 40,00, mas isto é tema para outro texto). Foi então que comecei a imaginar a relação entre minha conta e toda aquela estrutura.
Partí do principio de que o estabelecimento não receberia tudo que paguei, pois dos R$ 8,50 há que se descontar os impostos, que mordem tranquilamente de 7% a 10% do montante. Eu usei meu cartão de débito, o que morde adicionais 2% a 3%.
Também fiquei imaginando aquela trupe de garçons e caixas em sua rotina diária. Provavelmente o contingente trabalhe pesado entre 11h30 e 14h30, mas ninguém pode ser contratado por três horas de trabalho. Logo, o dono da padaria charmosinha precisa contratá-los normalmente por 20 ou 44 horas semanais e arcar com o tempo ocioso, fora as faltas com atestado. Quase tive uma indigestão quando pensei nos adicionais de insalubridade, férias, 13º, descanso semanal remunerado, auxilio disto, auxilio daquilo....
Quando o bolo alimentar juntou-se com toda a escrituração contábil pela qual aquela notinha fiscal que pedi com CPF iria passar, incluindo os registros nos livros – em muitos casos literalmente – fiscais pertinentes, quase morri... e olha que nem entrei no custo da compra da matéria prima (SALMÃO, MELÃO E MORANGO!!!), do pessoal que prepara, do gás, da energia, etc, etc, etc.
Se por um milagre da natureza ainda sobrar algum trocado dos meus R$ 8,50 originais, o coitado do dono ainda teria que pagar imposto de renda. Juro que seu eu tivesse comido apenas a refeição, teria voltado e dado um troco a mais para o fulano.
Mas para sorte e felicidade geral do sistema, eu comprei um suco. Um copo de água de 300ml com uma polpa que custa centavos, e que me foi cobrado R$ 8,00. Caro? Muito. Injusto? Longe disto.
É o suco que faz a máquina girar. Assim como o café a R$ 4,50 ou a coca cola de R$ 22,00. E mesmo com tudo isto, ainda há muito mais empresários indo à falência do que entrando na lista da Forbes. O fato é que o Brasil se tornou um país caro.
Abusos precisam ser coibidos. Cansei de ver casa colocar o preço do couvert artístico no valor total da conta, e só depois cobrar os 10% de serviço. Boicotes nestes casos podem e devem ser incentivados. Mas há que se entender também que nem tudo é lucro fácil na vida do empresário tupiniquim.
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